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PREFÁCIO

 

UM INVISÍVEL FIO DE VIDA

 

Quando Angela Moraes Souza enviou-me os originais, percebi, na medida em que avançava na leitura, que o texto se tratava de um único poema, longo, fluente, contínuo, ininterrupto. Fiquei encantada com minha descoberta, porque sinto falta, na literatura brasileira, deste tipo de composição poética, que requer certo enredo, fazendo com que consideremos cada página como um ato ou um momento/movimento-cena/solo da trama principal. São relativamente poucos os poemas epilíricos em nosso país.

Não existe contradição em falarmos de épicos-líricos, porque, embora raras, há sagas líricas e épicas, a exemplo de Romeu e Julieta. O escritor, professor e Doutor em Literatura Anazildo Vasconcelos da Silva, ao examinar o modelo épico pós-moderno, observa justamente que há uma forte corrente contemporânea que consiste em transformar a narrativa épica em uma epopeia lírica.

Sou uma apaixonada pelo épico, e, ao contrário do que a maioria quase absoluta dos manuais de Teoria Literária afirmam, não concordo com a decretação da morte deste gênero. Creio que uma civilização que não saiba mais contar histórias, que tenha abandonado a arte de narrar, está em aceleradíssimo processo de extinção. Com a volta do trágico na contemporaneidade, o épico acorda de sua hibernação e retorna à nossa cena: não temos mais um épico ao estilo e dimensões como o da Grécia clássica, porém nosso convívio diário com o épico é muito maior do que percebemos – todo filme de ação, por exemplo, é um épico atual ou futurista, contando a saga de seus heróis, que, também diferentes dos heróis clássicos – eternos sofredores e atormentados, vítimas do destino cruel e de soluções radicais – hoje vivenciam o destino como uma experiência repleta de múltiplas possibilidades enriquecedoras.

A obra de Angela Moraes Souza traz justamente este tipo de heroína épica moderna, narrando sua saga em busca da felicidade – desejo com o qual todos nós nos identificamos de  imediato. Esta procura se faz através do amor, a princípio a dois, de forma serena. Neste momento, viver o presente é o que importa, sem pensar nele (“Quando a gente está contente / nem pensar que está contente a gente quer / nem pensar a gente quer, a gente quer é viver”- já escreveu Gil e cantou Gal). No entanto, este carpe diem desgasta-se, o casal afasta-se e a personagem percorre a via crucis de sua solidão, com todo séquito de fantasmas e arrependimentos, inclusive questionando-se por ser tão exigente em sua busca por um amor pleno: “Seria tão mais fácil / se eu me entregasse, / se não me importasse / do outro a verdade / e vivesse somente / da minha crente.”

Há mais uma tentativa de volta, uma busca de reencontrar o paraíso perdido, porém o tempo da ilusão desfez-se e nada pode impedir a ruptura definitiva. Com habilidade, o texto poético vai criando um clima de cumplicidade entre ele e o leitor, que compartilha a tristeza da personagem, e torce para que ela consiga reunir os fragmentos dispersos de si. Renascida das

cinzas, esta fênix rediviva, agora, muito mais experiente e lúcida, com nova plumagem, escolhe seus céus e seus pousos. Aprendeu a voar.

Narrativas poéticas requerem fôlego, do autor e do leitor. Neste sentido, a publicação digital deste livro é também uma ousadia editorial, porque quase sempre vemos delinear-se o perfil do internauta como um leitor apressado, desatento, que segue o ritmo frenético do ciberespaço. É outra afirmativa preconceituosa. Assim como, se acabamos com o épico, também eliminamos a função a ele inerente – de observar, rever, criticar, mostrar, questionar, repensar, analisar, se depreciamos o leitor da Internet, negando-lhe a capacidade de uma análise e atenção maiores, estamos desvalorizando os dois: mídia e leitor.

Sabemos que os leitores de Blocos Online não correspondem a esta imagem desoladora que em geral se faz dos internautas, e que eles são capazes de apreciar e valorizar este épico de nossa época. Temos, portanto, enorme prazer em apresentar ao público UM FIO DE SEIVA, que rompe com falsos mitos e recredita à Internet a importância cultural que ela possui.

          

             Leila Míccolis

             Escritora de livros, TV, teatro, cinema e Ms. Teoria Literária (UFRJ)

 

 

 

 

CRÉDITOS

 

Capa: Ale Teixeira

Background do livro: Angela Moraes Souza

Editoração e supervisão de texto: Leila Míccolis

Revisão de texto: Lourival Corrêa de Souza

                             Regina da Silva Martins

 

Lançamento: 10 de agosto de 2009

 

 

 

 

DEDICATÓRIA

 

Leo, Regina e Laura, muito obrigada pelo grande estímulo.

 

 

 

 

 EPÍGRAFE

 

“Eis, no entanto, alguém

saindo lá do fundo

das entranhas,

quase mudo, mas intenso.”

 

Alcides Buss

In: Cinza de Fênix e Três Elegias

Mansamente

me viro

para dentro de mim.

Vou até a secreta morada

na clareira da mata

enfeitiçada

pelo canto das aves,

o murmurar da cachoeira

e os sopros do vento.

Onde o sorriso e a lágrima

regam os sentimentos

à flor da pele

poetando tudo.

E o silenciar

de todas as vozes

oferece o desfrutar

da essência.

Quando é Silêncio

 

 

Ainda
e sempre
me restará
o céu
com suas nuvens
incertas.

 

 

Um pássaro
cantou,
cantou,
tão bonito.
O mundo
era só ele.

 

 

Independente
do que for,
transpirar
a emoção
que seja,
aliando
a alma
à terra.

 

 

Quando
se dá ouvidos
ao silêncio,
devagarinho,
a alma se acalma.

UM FIO DE SEIVA

 

 

Desperto.
E fico ouvindo
a manhã.
Sem corpo.
Sem tempo.
Sem espaço.
Mesclando-me aos sons.
Dispersa
em matutinos
fractais.

 

 

O que calas
quando falas,
no silêncio
dos teus gestos
escuto. Então,
te encontro.

 

 

Queria
que essa tarde
invadisse a noite,
para que esse ficar assim
aninhada em seus braços
ficasse, ficasse, ficasse, ficasse,
ficasse…

 

 

Violeta
névoa
me transpassa
toda.
Enevoada
flutuo.
Rarefeita.

Palavras Nuas

 

 

ÁGUA

Na água molhar o corpo nu.
Delícias da água a passear
nos pelos, na pele, nos cabelos.
Se misturar na água
e rolar.
Deixar a lágrima escorrer
ao encontro da água.
Ser água.
Só água ser.
Sentir-se água
e se desfazer.

 

 

LAMENTO

Ondas de sentimentos
banham a alma.
Ora a exaltam
em esplendor.
Ora a exortam
ao chão em dor.
E a cada repuxo intermitente,
espreita a alma crente
um ímpeto mais forte
a sublimar a sorte.

 

 

OUTRO OLHAR

E foi assim,
sem mais nem menos
se esqueceu.
Bastou olhar
no céu azul
as nuvens tecendo
seus bordados,
que se encantou
com a vida,
e a alma sofrida
na paz do amor
se perdeu.

 

 

ENCONTRO

Através muitos luares
naveguei mares sem fim
em busca do meu mar.
E ele marejava de mim…

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CURRICULUM VITAE

 

 Identificação

 

Nome: Angela Moraes Souza

Data de Nascimento: 10.01.1955

Local de Nascimento: Rio de Janeiro

Profissão: Arquiteta

 

Formação Acadêmica

 

1974/1978: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense (UFF) Niterói – RJ

 

Formação Artística

 

1980/1982: Curso de Desenho de Observação sob a orientação da artista plástica Flávia Fernandes – Florianópolis – SC

1982/1983: Curso de Gravura em Metal sob a orientação da artista plástica Flávia Fernandes – Florianópolis – SC

1994/1996: Curso de Pintura sob a orientação de Marida Zamboni – Florianópolis – SC

1996/2008: Curso de Desenho e Pintura sob a orientação da artista plástica Sônia de Brida Zanette – Florianópolis – SC

 

Exposições

 

1995: Coletiva no Beiramar Shopping – Florianópolis – SC

1996: Coletiva no Restaurante Vinícius – Florianópolis – SC

Coletiva no Espaço Cultural Caixa Econômica Federal, ag. Miramar – Florianópolis – SC

2000: Coletiva no Espaço Cultural BESC, ag. ELETROSUL – Florianópolis – SC

2001: Coletiva de Outono da ACAP na Assembléia Legislativa do Estado de Santa Catarina – Florianópolis – SC

Coletiva de Verão da ACAP – Florianópolis – SC

2002: Individual no Espaço Cultural MERCOSUL – Florianópolis – SC

Individual no Centro Municipal de Cultura – Museu Willy Zumblick – Tubarão – SC

2003: Individual no Espaço Cultural CASAN – Florianópolis – SC

2007: Coletiva de Verão da ACAP – Florianópolis – SC

2008: Coletiva de Inverno da ACAP – Florianópolis – SC

2009: 2o. Livro solo de Poesias ( para que fique assim, no alinhamento do término do ano)

2010: Coletiva ACAP 35 ANOS de ARTE – Assembléia Legislativa do Estado de Santa Catarina – Florianópolis – SC

2011: Coletiva ACAP em Comemoração ao Dia do Artista Plástico – Sede da OAB – Florianópolis – SC

2012: Coletiva ACAP “Do Acadêmico ao Contemporâneo” – Espaço Cultural Gov. Celso Ramos – Banco Regional do Desenvolvimento do Extremo Sul – Florianópolis – SC

2014: Coletiva ACAP “Sobre Papel” – Museu Histórico de S. José – SC

Espaço Cultural do Círculo Italiano de SC – Florianópolis – SC

5ª Edição do Leilão de Arte ACAP – BRDE – Florianópolis – SC

2019 : Coletiva ACAP “Femminile”—  Galeria do Mercado Público de Florianópolis – SC

Espaço Expositivo de Arte em Movimento – ARTENDA (parte da programação da Maratona Cultural 2019 e do Floripa Conecta) – Corporate Park – Florianópolis – SC

2020 – Seleção e Participação no Salão de Artes Sobre Papal Moinho Brasil 35 Anos.

 

 

Publicações

 

1998: 1ª. Antologia em Prosa e Verso da Associação dos Cronistas, Poetas e Contistas Catarinenses

1999: 3ª. Antologia da Associação dos Cronistas, Poetas e Contistas Catarinenses

2000: 4ª. Antologia da Associação dos Cronistas, Poetas e Contistas Catarinenses

2002: 1º. Livro Solo de Poesias: PALAVRAS NUAS, pela Editora Nova Letra

2009: Antologia Digital Saciedade dos Poetas Vivos 8 – do Portal de Literatura e Cultura Blocos Online  – www.blocosonline.com.br

2o. Livro Solo de Poesias: UM FIO DE SEIVA, digital pela Editora Blocos – www.blocosonline.com.br

2010: Antologia Delicatta V – “ Cronistas, Contistas e Poetas Contemporâneos” Série Esmeralda- lançada na 21ª. Bienal Internacional do Livro em S. Paulo

2013: Antologia “Poesia Para Mudar o Mundo vol.1” – do Portal de Literatura e Cultura Blocos Online – www.blocosonline.com.br

2014 : Antologia “Poesia Para Mudar o Mundo vol.2” – do Portal de Literatura e Cultura Blocos Online – www.blocosonline.com.br

2015 : Antologia “Poesia Para Mudar o Mundo vol.3”- do Portal de Literatura e Cultura Blocos Online – www.blocosonline.com.br

2019 : Antologia “Poesia Para Mudar o Mundo vol.1” – Edição impressa – Editora Blocos.

2020: 2a. Edição, agora impressa, do Livro UM FIO DE SEIVA pela Scortecci Editora

3o. Livro Solo: QUANDO É SILÊNCIO pela Scortecci Editora

 

Participações

 

2008/2019: Página individual de poesias do Portal de Literatura e Cultura Blocos Online (www.blocosonline.com.br) e da Escrita – Biblioteca Virtual de Escritores (www.escrita.com.br)

 

 

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